O impacto das telas na interação entre pais e filhos
Hoje, vamos falar sobre um tema que gera muitas dúvidas: o uso de telas na primeira infância. Afinal, qual é o real impacto disso na linguagem das crianças?
Um estudo recente publicado na JAMA Pediatrics (2024) investigou justamente isso. Os pesquisadores acompanharam 220 famílias com crianças de 12 a 36 meses de idade. Utilizando um gravador especial, eles conseguiram medir o tempo de tela e monitorar o ambiente linguístico da criança, analisando:
Quantas palavras os adultos falavam perto da criança
Quantas palavras ou sons a criança emitia
Quantas trocas de turnos (diálogos) aconteciam
Aos 3 anos de idade, cada minuto a mais de tela por dia estava associado a:
Menos 7 palavras faladas pelos adultos
Menos 5 palavras ou sons emitidos pela criança
Menos 1 troca de turno na conversa
Em outras palavras, mais tempo de tela = menos conversa entre adultos e crianças.
E o que isso significa na prática?
Se uma criança passa cerca de 3 horas por dia diante de telas — o que é comum atualmente — ela pode perder a chance de:
Ouvir mais de 1.100 palavras
Falar cerca de 840 palavras por dia
Isso representa uma redução significativa de interações essenciais para o desenvolvimento da linguagem.
Mas então, o que podemos fazer?
Sabemos que eliminar totalmente o uso de telas nem sempre é possível. A boa notícia é que existem formas mais saudáveis de usar a tecnologia com crianças pequenas:
Co-viewing (uso compartilhado e interativo): quando os pais assistem junto com a criança e conversam sobre o que está sendo visto, os efeitos negativos diminuem. Essa interação pode, inclusive, estimular a linguagem.
Quando não for possível acompanhar, escolha conteúdos educativos e apropriados para a idade.
O mais importante é lembrar que a linguagem se desenvolve na troca. O que mais favorece a fala não são os aplicativos ou os vídeos, mas as interações olho no olho, palavra por palavra, afeto por afeto.
Referência: JAMA Pediatr. 2024;178(4):369-375. doi:10.1001/jamapediatrics.2023.6790